Depois de ter treinado o Lousanense e o Pombal temos o regresso à AAC. Que motivos o levaram a aceitar este desafio?
Terminado o período em que estive à frente da equipa de seniores do Lousanense, com algum sucesso, e do NDAP, em que vários aspectos correram mal no momento em que a equipa estava em ascensão, tinha decidido fazer uma paragem para me dedicar a outros projectos. Contudo, o andebol tem acompanhado a minha vida e a competição continua a ser uma paixão.
Por outro lado, as pessoas que me contactaram foram suficientemente convincentes para que voltasse a abraçar o “projecto Académica”, sem me colocarem metas nem objectivos competitivos pré-definidos. O grande objectivo seria contribuir para relançar a AAC no panorama andebolístico nacional.
Face a isto, a resposta só podia ser, contem comigo!
A AAC tem tido nas últimas épocas graves problemas para manter em actividade a sua secção de andebol e muito particularmente as suas equipas de seniores. Depois de na última época a direcção ter decretado o “ano zero”, começar a trabalhar na formação, planear financeiramente a vida da secção, acredita que a estabilidade será finalmente possível?
Quando há vontade e trabalho, tudo é possível. E esta direcção mostrou que está nesse rumo. Claro que o regime de voluntariado decretado ajuda a sanear muitos problemas financeiros que vêm de trás, mas a estabilidade passará por juntar uma recuperação a esse nível com o sucesso desportivo. E esse sucesso não depende apenas das equipas de seniores (masculina e feminina), embora sejam as que, como é óbvio, têm mais visibilidade.
O amadorismo total que tem caracterizado a equipa, tem como consequência todos os anos, a necessidade de construir uma nova equipa, com aqueles que querem representar a AAC. Que medidas aconselha para que o panorama possa ser alterado, criando uma equipa mais competitiva, nomeadamente que possa aspirar à subida para o 2º nível de prática nacional?
O grande problema que é referido nesta questão é a diversidade de “culturas andebolísticas” em contraponto com uma “escola de andebol”. A competitividade não depende exclusivamente de uma ou de outra.
Mas se se pretende de facto criar uma escola de andebol da AAC, o primeiro passo é estabilizar e dar condições de trabalho e evolução individual aos diferentes treinadores. Criar uma estrutura de formação e interligá-la com a estrutura de competição, é um passo seguinte.
Que objectivos poderemos esperar para esta época?
O regresso de alguns atletas nesta época é factor decisivo para a obtenção desses objectivos?
A prova em que a AAC está inserida (Zona Centro), tem esta época a entrada de duas equipas (JUVE LIS e ILHAVO) e a ausência do Tondela e do Nelas equipas que a AAC conseguia quase sempre superar. Que expectativas tem , face ao plantel que dispôe, para esta 1ª fase da prova?
A análise a fazer parte de um conjunto de factores que têm a sua importância relativa no contexto da época desportiva.
Como afirmei, não me foi imposto nenhum objectivo desportivo concreto, mas assumi desde logo que a manutenção era fundamental. Tendo como dado adquirido que os atletas foram chegando cada um a seu tempo e que a prova em que estamos integrados se iniciou, incompreensivelmente, quando os atletas acabam de regressar de férias, é fácil entender que o período pré-competitivo (a pré-época como agora se vulgarizou) não existiu na prática. E isso pode vir a ter consequências em termos de médio e longo prazo da época. No entanto, e agora que começamos a estabilizar o lote de atletas, podemos dizer que, à partida, estaremos entre o lote de equipas que irão discutir o acesso à fase final (as duas primeiras de cada zona).
A AAC beneficia com os atletas de qualidade que estejam ou reforcem o plantel. A questão será conseguirmos que as diferentes culturas andebolísticas que antes referi se possam conjugar numa só, para que saia reforçada a equipa. Bons atletas não fazem forçosamente uma boa equipa. Mas é meio caminho andado.
Quanto às equipas adversárias, umas reforçaram-se e outras perderam atletas, mas acredito que esta Zona Centro será a mais equilibrada das três (Norte, Centro e Sul).
As condições que a AAC oferece neste momento são suficientes para seduzir um jovem praticante da modalidade querer representar a AAC? Que medidas proporia para alterar a situação actual?
A nível técnico, aquele em que me posso pronunciar, tivemos de reestruturar os treinos por forma a haver qualidade de trabalho. A procura tem sido muito forte e fomos forçados a integrar muitos jogadores seniores nos treinos dos juniores. A confiança no treinador deste escalão é total no sentido de permitir que alguns dos atletas referidos possam evoluir significativamente para que, a breve trecho, possam integrar o lote de atletas disponíveis para a equipa principal.
A eventual criação de uma equipa “B” poderia ser uma solução para dar competição a estes atletas.
Na AAC verificamos curiosamente, várias posturas e diferentes níveis de encarar a competição federada (secções com atletas gratificados ou mesmo profissionais….). Será possível aspirar a voltar a ter essa maneira de praticar desporto na AAC?
Sinceramente, na questão profissional, e reportando-me exclusivamente ao andebol, face à situação do país, e da região em particular, penso que seria dar um tiro nos pés. Devemos aprender com erros do passado. Num futuro, com uma secção forte e já estruturada financeiramente, acho que seria possível encontrarem-se outras formas de motivação para os atletas.
De acordo com a actual organização da modalidade acha que a AAC tem possibilidade de poder competir nos níveis superiores de prática?
Dificilmente. Aliás, mesmo as equipas que competem nesses níveis estão a sentir bem as dificuldades.
O que pensa poder mudar na AAC para poder “apanhar o comboio”?
Se a questão se refere ao que posso eu, enquanto treinador dos seniores masculinos, fazer, diria que o papel passa por criar hábitos e posturas diferentes das que encontrei na minha última passagem pela secção. Ser estudante e jovem não justifica certos tipos de atitude face à presença aos treinos e à entrega ao trabalho. Mas este ano, para já, nem me posso queixar. Queiram os atletas manter essa postura para bem do colectivo.
Por outro lado, ajudar, em conjunto com os restantes técnicos, a criar a tal escola de andebol da AAC, com conceitos e métodos próprios.
Concorda com o actual modelo seguido para o desporto universitário? Há quem diga que só serve para “queimar” recursos, manter uma “fachada” institucional com o apoio das associações de estudantes e poder representar o país nas provas internacionais. Concorda com esta análise?
Não tenho acompanhado o desporto universitário na sua estrutura e competitividade que me permita emitir uma opinião válida.
A entidade que enquadra o andebol federado - Federação, é acusada de estar só preocupada e apoiar as suas elites, retirando do seu vocabulário a palavra DESENVOLVIMENTO? Concorda? Que consequências terá para o futuro da modalidade?
Aquilo que a FAP exige a um clube para poder competir principalmente nos escalões seniores é para muitos, impeditivo de poder participar. Será o melhor caminho para a expansão e consolidação da modalidade (de 2ª modalidade mais praticada no país passou para 4ª…)?
Infelizmente, e face ao que me é dado a observar, quando o “doce” acabar, não sei se teremos “ingredientes” para fazer mais.
O que temos vindo a assistir é à “regionalização” do andebol, nas zonas com maior índice populacional e capacidade financeira (honra seja feita a algumas, poucas, excepções), e ao encerramento de muitos clubes, que representa a fuga de muitos jovens para outras modalidades.
O actual modelo de formação de treinadores é considerado por muitos críticos, desasjustado da realidade da modalidade, é exageradamente caro para os candidadtos que querem optar por seguir uma carreira de treinador, é “pobre” nas metodologias e apenas quer por em conformidade com a lei os treinadores de andebol e ganhar dinheiro com a formação... Uma opinião?
Eu próprio frequento neste momento essa formação. E não posso deixar de concordar com o que é dito. Embora considere que a formação de um treinador não termina nunca.
Já alguma vez pensou em desistir?
Muitas vezes. Mas o “bichinho” do andebol tem sido mais forte!
Onde espera chegar enquanto treinador?
Sinceramente, não tenho metas traçadas a longo prazo, já que o andebol não pode, por mim, ser encarado como uma via profissional. Como tal, entendo a actividade como sempre fiz: tentando contribuir da melhor maneira para que os grupos com quem trabalho possam ir mais longe… mais e melhor! E espero poder fazê-lo na AAC!