segunda-feira, 19 de setembro de 2011

António Sousa é o novo Presidente da Secção de Andebol da Académica


António Sousa ex-atleta e treinador da AAC, S. Clara e Gil Eanes, veio na época transacta integrar os quadros dirigentes e técnicos da AAC. Foi recentemente eleito presidente da Secção e mantém a colaboração técnica para a formação.
Como podemos justificar este regresso ao clube onde iniciou a sua “paixão” pela modalidade, sabendo das grandes dificuldades que a secção atravessa?

Quando regressei a Coimbra em Julho de 2010, procurei manter a minha ligação à modalidade como treinador. A Académica é o único clube que mantém a modalidade, com a excepção do CAIC que é um clube escolar e um exemplo a seguir pela forma como trabalha os escalões de formação. A Académica foi o clube que me formou como atleta e onde desempenhei a função de treinador pela primeira vez, quando tinha 17 anos, em que colaborava com o João Borges nos treinos dos Bambis e Minis. Apesar de saber das grandes dificuldades vividas pela secção, resolvi colaborar com os escalões de formação.
Propuseram que para além de ser responsável por uma equipa, desempenha-se também a coordenação de todos os escalões de formação.
Constatei que a formação era praticamente inexistente, e convidei algumas pessoas para fazerem parte desse projecto. O Júlio Alves que em conjunto comigo tinha iniciado um projecto em 1986 no Sta. Clara, o Paulo Monteiro de quem fui treinador nos juniores da Académica em 1994/95, o Marcos que foi atleta da formação do Sta. Clara e que posteriormente representou a Académica e contamos ainda com a colaboração de mais pessoas que já integravam a estrutura da AAC e outros ex-andebolistas que foram “obrigados” a aparecer, porque os filho(a)s elegeram o andebol como modalidade para praticar. Considero um objectivo cumprido, pois em 6 meses passamos de 15 jovens andebolistas para mais de 100. E a tendência continua a ser a de crescer. Agora para esta época, o desafio passa por aumentar o nível qualitativo dos nossos jovens andebolistas, masculinos e femininos.
Nunca tinha pensado em ser dirigente, mas a convite do Prof. Horácio Poiares, aceitei, a pensar na minha filha, porque um dia se ela gostar da “minha” modalidade e desejar praticá-la, quero que tenha um clube responsável, dinâmico e com projecção. Esta será a minha maior justificação, logo seguida de uma enorme motivação em ajudar a manter em actividade uma secção que me ajudou a crescer.

Quais são os principais problemas que o preocupam, para poder garantir a prática da modalidade na AAC e em Coimbra?

Existem 2 pontos que considero de grande importância para o desenvolvimento do andebol na Académica. Um é a recuperação de espaços para treino. A Secção de Andebol perdeu espaços por vários motivos, dos quais destaco a perda de horas de treino no pavilhão Engº Jorge Anjinho e que na altura, segundo me informaram, não foi compensada com outros espaços. Actualmente, graças à compreensão e boa vontade de todos os treinadores que integram o Projecto de Formação da Secção de Andebol, partilhamos 2 vezes por semana das 18h30m às 20h, o pavilhão nº 3 do EUC, onde colocamos 8 equipas a treinar em simultâneo. É impossível trabalhar com qualidade. As nossas equipas mesmo com estas condições apresentaram evolução, mas não conseguimos competir de igual para igual com os nossos adversários que tem melhores condições de treino. Esta vai ser uma das minhas lutas e não desistirei enquanto não conseguir proporcionar melhores condições de treino aos nossos jovens andebolistas, bem como aos nossos treinadores, pois já lhes estou grato pelo trabalho que realizam sem receberem qualquer compensação.
Outro ponto, não menos importante, é o sector financeiro da Secção de Andebol. Para esta época partimos com um saldo negativo de 10.000€. Isto não deveria acontecer. É um mal que vem de traz, de vários anos, de várias direcções. Em conjunto iremos tentar contrariar esta situação, conscientes de que na actual conjuntura económica do país não será uma tarefa fácil. Mas tentaremos “inventar” novas formas de auto-financiamento.

Que fontes de financiamento tem a Secção de suporte a este projecto?

Actualmente a Secção de Andebol tem muito poucas fontes. Temos a distribuição de verbas proveniente da DG da AAC, e pelo que percebi, tem sido prática habitual nesta secção utilizar o dinheiro em forma de adiantamento, pois a distribuição normalmente acontece em Março, e nessa altura a Secção já recebeu tudo a que tinha direito. Tentaremos contrariar esta situação, pois no meu ponto de vista, teremos de contar com essa verba para preparar a época seguinte. Contamos ainda com poucos pequenos apoios de entidades privadas, mas que não chegam para as despesas que actualmente temos. Vamos passar a ter sócios da Secção já a partir deste mês, pelo que aproveito para apelar a todos os AMIGOS da Secção de Andebol, para se tornarem sócios, e participarem no crescimento e reorganização da mesma.

A AAC é também pela força das circunstâncias um clube da cidade e as suas secções são o “cartaz” da cidade. Acha que a autarquia tem justificado esta realidade?

A AAC é sem dúvida um cartão de visita da nossa cidade, mas não me compete a mim avaliar se a autarquia está ou não a corresponder a essa realidade. Entrei recente nesta estrutura e ainda não tenho uma percepção que me permita essa avaliação.

Concorda com a existência de modalidades “prioritárias” alvo dos principais apoios autárquicos?

Não concordo com a existência de modalidades prioritárias. Considero que deve haver espaço para todas as modalidades desportivas. Pessoalmente defendo que devem existir várias modalidades com elevado nível de qualidade nas suas escolas de formação, que permitam às crianças optar por aquela que mais gostam e para a que tenham mais aptidão. Acho que os apoios devem ser distribuídos de igual forma, com regras pré-definidas, e que premeiem os que realmente desenvolvem os escalões mais jovens. Decididamente sou contra o apoio a modalidades que apresentam nas suas equipas profissionais, um ou dois atletas de origem portuguesa sendo os restantes estrangeiros. Esses apoios autárquicos estão a ser levados para fora, é dinheiro que não fica a circular na nossa zona.

Que consequências têm para os níveis de prática a inexistência de outros clubes quer na cidade quer no distrito, bem como uma Associação Distrital inoperacional?

Este é um dos grandes problemas do Andebol no distrito de Coimbra. A Académica e o CAIC tem de se deslocar para Leiria, Santarém e Castelo Branco para realizar os jogos fora. São deslocações que chegam aos 450 kms. Os calendários nunca coincidem, e temos de ir 8 vezes a cada localidade, em cada prova que disputamos. Os árbitros são nomeados pela Associação de Leiria. Temos de pagar as arbitragens mais a deslocação. O que seria desejável era haver mais clubes, mesmo no distrito, pois pouparíamos muitos kms. Se existisse uma Associação funcional em Coimbra, certamente teríamos árbitros, e o custo de um jogo deixaria de ser 100€ para ser 30€. Sinceramente não consigo perceber como se chegou a esta situação. Em Coimbra chegaram a existir 14 clubes em simultâneo com a modalidade activa. Espero que brevemente a Associação de Andebol de Coimbra regresse ao activo, mas para isso precisamos de, em conjunto, encontrar pessoas com disponibilidade para lutar pelo crescimento da modalidade no distrito. Penso que é possível, mas tem de se trabalhar para isso.

É do conhecimento público que também cativou para a equipa directiva e técnica alguns antigos atletas e colaboradores que foram decisivos na época anterior para o aparecimento e consolidação dos vários escalões de formação da AAC: o que motivará estes colaboradores?

É verdade. São pessoas que sempre estiveram em Coimbra, e nunca nenhuma direcção da Secção teve coragem de convidar. A motivação deles, é o gosto pelo Andebol! E acima de tudo, a amizade que nos une, e de podermos proporcionar aos actuais jovens da AAC condições de evolução, que quando tínhamos a idade deles era inexistente.

Registámos na época passada com muito agrado a entrada em competição de várias equipas dos escalões de formação, com o suporte dos encarregados de educação que se tornaram grandes colaboradores e também dirigentes. Com vê esta “entrada” na secção destes colaboradores?

Sem eles, não estaríamos hoje aqui. Eles acreditaram no nosso projecto, empenharam-se em nos ajudar e acima de tudo deram-nos ânimo e confiança para continuarmos.

As dificuldades que a secção atravessa também são públicas e transparentes: Como vai ser possível aguentar financeiramente a actual época com os recursos disponíveis? Que Objectivos e estratégias?

Com os recursos disponíveis nem sequer arrancamos. Estamos a trabalhar no sentido encontrarmos alternativas que nos permitam sobreviver. Os últimos dias foram de grande empenho, inscrições para efectuar na Federação, que não ficam aprovadas na FAP, enquanto não estiver o pagamento efectuado. Agendar deslocações das equipas sem termos dinheiro em caixa. É complicado…

A AAC ao contrário de muitos clubes nacionais, mantém em actividade os sectores masculinos e femininos. Esta realidade, que será sempre de louvar, tem custos elevados. Será possível manter esta realidade?

Temos que manter esta realidade. Na AAC sempre se deu mais importância às equipas masculinas, desde que me lembro. Mas há espaço também para as equipas femininas. Ambos os géneros têm de ter tratamento igual. Os custos são elevados. Para esta época a nossa equipa feminina tinha direito a participar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, mas tivemos de optar por as inscrever no Campeonato Nacional da 2ª Divisão. Não tínhamos condições financeiras para o fazer. Foi uma decisão bastante difícil de tomar.

Em alguns blogues “académicos” muito dedicados ao futebol profissional, são comuns as críticas aos níveis de prática em que as equipas da AAC competem, opinando que se é para competir a esse nível não deviam sequer existir. O seu comentário!

Cada um é livre de opinar sobre o que bem entender, desde que tenham conhecimento sobre o que estão a opinar, se não sabem do que escrevem é melhor guardarem a esferográfica. As críticas construtivas são sempre bem-vindas. Se as pessoas de Coimbra, querem melhor nível nas equipas da AAC, sejam de que modalidade forem, podem começar por ajudar mais essas secções a angariar patrocínios e a irem ver os jogos para apoiarem as equipas.

Alguns “iluminados” afirmam que a Secção se não tem dinheiro para competir no desporto federado deveria dedicar-se ao desporto universitário: acha que a actual estrutura do D.U. consegue “seduzir” algum jovem para a prática da modalidade?

Qual o jovem que se sente realizado se fizer apenas 3 ou 4 jogos por época? A esses “iluminados” apenas desejo nunca os ver nessa situação. Eu sou adepto da Académica e desejo ver sucesso em todas as modalidades da AAC, não só no Andebol. Quantos mais sucessos desportivos obtivermos nas diferentes modalidades, mais apetecível se torna a Instituição para projectar imagem de eventuais patrocinadores. E isso é importante para todos nós

Direcção Geral e Conselho Desportivo, duas realidades do “edifíco” académico, como têm encarado os problemas da Secção?

A percepção que tenho é que tem encarado a situação com grande preocupação e tem estado disponíveis para colaborar connosco. Temos mantido contactos, tanto a DG como o Conselho Desportivo, estão a par das nossas dificuldades, tem ajudado a Secção dentro das possibilidades que tem, mantendo toda a legalidade, pois a Secção não recebeu nenhuma verba que não estivesse definida dentro dos regulamentos, mas acreditaram no nosso projecto para manter a Secção a funcionar e concederam-nos um pequeno adiantamento, que apesar de não cobrir todas as necessidades da Secção para o arranque da época, foi uma preciosa ajuda. Sem eles não teria havido eleições e a Secção estaria extinta, a 2 anos de completar 75 anos de existência.

Como justifica a existência na AAC de secções totalmente amadoras e secções que contratam “profissionais” (excepção para o futebol profissional que tem o estatuto de organismo autónomo).

Cada Secção sabe de si. Não me compete a mim julgar essa existência de atletas profissionais. Actualmente na Secção de Andebol os atletas até têm de pagar para representar a AAC, situação que eu gostaria de ver extinta muito em breve. Desde que para terem esses atletas não prejudiquem as outras secções que não pagam a atletas, a mim não me incomoda, mas estaremos atentos.

A prática da modalidade segundo muitos intervenientes exige grandes esforços financeiros aos clubes para poderem competir. Como define a actual política da Federação e das suas “Associações Âncora”, face à previsível diminuição dos apoios públicos? Como justifica a “passividade” dos clubes face a esta realidade?

A Federação não pode ser considerada culpada por num determinado distrito não existirem clubes suficientes para disputar um campeonato. As Associações Âncora proporcionam a realização de provas com 6, 7, 8 ou mais equipas. Desportivamente acho que é benéfico para os escalões de formação, contudo na actual conjuntura é complicado para os clubes sobreviver com este aumento de despesas e redução de receitas. Só defendo que em tempos de crise, a Federação não deveria cobrar a exorbitância de valores para inscrições de atletas e de equipas. A passividade dos clubes no meu ponto de vista é a falta de diálogo entre eles. Pois se um tomar posição e diz que não se inscreve, estão logo 10 para ocupar o lugar.

Em 2013 a Secção comemora o seu 75º aniversário. Pensa a secção aproveitar esta data “redonda” para a sua promoção e consolidação?

Bodas de Diamante. Há um ano, quando regressei ao Andebol da Académica, confidenciei com os que me acompanharam no projecto, que o objectivo para essa importante data seria o de a Secção de Andebol da AAC ter todos os escalões femininos e masculinos em actividade. Estamos muito perto de o conseguir. Considerámos a época 2010/2011 como a ano -1, a época 2011/2012 que agora se inicia designamos como ano ZERO e a época 2012/2013 na qual festejaremos os 75 anos esperamos estar já em plano de evidência. A promoção já está em marcha, a consolidação apontamos para que seja na época do aniversário.

As equipas técnicas são decisivas para a estruturação de um clube: como está a AAC nessa área sabendo das grandes dificuldades financeiras e de recrutamento de técnicos?

Existem poucos treinadores qualificados, em Coimbra, fruto da falta de clubes e do preço que um treinador tem de despender para se qualificar. Actualmente nenhum dos treinadores da Secção recebe sequer ajudas de custo. O Curso de Grau 1 que permite treinar Bambis e Minis custa 90€, o grau 2 que permite treinar Infantis custa 180€, o Grau 3 permite treinar equipas seniores até à 3ª Divisão e juvenis e juniores da 2ª divisão custa 500€ e o Grau 4 que permite treinar as equipas de top custa 1200€, mas depois da inscrição é necessário suportar despesas de deslocação, alojamento e alimentação. Se os treinadores não são compensados pelo trabalho que realizam nos clubes, como vão suportar estas despesas? É uma situação que quero resolver, pois não aceito que uma pessoa tenha prejuízo financeiro para ser treinador de andebol.

Por último objectivos para esta época?

São muitos os objectivos que temos, sendo uns a curto, médio e longo prazo.
As nossas prioridades são o de garantir o financiamento para a participação das equipas nas provas, para liquidar a divida que temos na Federação, que parte vem de traz e outra parte contraída esta época para garantir a participação das nossas equipas nas respectivas competições. Negociámos um plano de pagamentos que teremos de cumprir.
Conseguir mais espaços desportivos com dimensões de andebol (40mX20m) que permita um trabalho de formação com qualidade.
Aquisição de material desportivo de qualidade, designadamente bolas. O ideal é ter uma por atletas. Neste momento existe uma por cada 5.
Criação de uma Escola de Mini-Andebol, porque consideramos ser fundamental para o futuro das nossas equipas mais avançadas (juvenis/juniores/seniores). Se conseguirmos avançar agora, dentro de 10 anos teremos equipas de juvenis mais competitivas.
Aproximar mais a população das nossas equipas, para as pessoas verem mais andebol. Gostava de ter a bancada do pavilhão com muito público para apoiar as nossas equipas nos jogos.
Queremos mais andebol de qualidade, e trabalhamos para alcançar esse objectivo.

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